Com a morte tranquila de John Severson na noite de sexta-feira, a comunidade de surf perdeu outro lendário pioneiro. Severson foi o criador da revista Surfer, a primeira revista periódica de surf do mundo. A reverenciada revista, atualmente em seu 57º ano de publicação, ajudou a lançar toda a indústria do surf. E isso aconteceu quase que por acidente. Em 1960, Severson era um dos poucos aspirantes a cineastas de surf que documentavam uma pequena comunidade de pessoas auto-exiladas que se dedicavam integralmente às ondas. Com a ideia de promover seu filme de 1960, Surf Fever, o estudante de arte da faculdade (que também havia sido o editor do jornal de sua escola secundária) criou um folheto de divulgação com 36 páginas que ele chamou The Surfer. Este folheto contava com uma deslumbrante sequência de fotos do grupo aventureiro que ele acompanhava.

At the mag with Leo Bestgen. John Severson (à esq.) trabalhando duro durante os primeiros anos da revista Surfer. - Instagram / unknown

Uma homenagem da revista Surfer a Severson

O filme atraiu muitos elogios, mas Severson ficou impressionado com o fato de que a platéia folheava seu livreto com grande interesse. Na verdade, alguns dias depois ele encontrou pessoas passando o livrinho, como se fosse um meio de comunicação comunitário. É importante lembrar que o mundo em 1960 era diferente. Ao contrário dos dias de hoje, quando estamos nos afogando numa inundação digital, os surfistas daquela época eram literalmente famintos por informação. As fotos de surf eram então a maior fonte de notícias que existia. Percebendo a enorme oportunidade de preencher esta lacuna, Severson deu o bote.

"Antes de John Severson não havia 'mídia de surf', nem 'indústria de surf'' e nem 'cultura de surf ' - não como a conhecemos hoje. Drew Kampion, 1999

O impacto da revista foi veloz e poderoso. A cada nova edição, membros da comunidade de surfistas, até então desconectados entre si, estavam sendo unidos pelo crescente desejo de conhecer novos destinos e equipamentos. Enquanto isso, o grupo, cada vez mais numeroso, de surfistas que fabricavam pranchas e os primeiros modelos de roupas de borracha, finalmente tinha um lugar para anunciar. Surfistas corriam para ler as novas edições e assim descobrir o que estava acontecendo na sua praia e também nas ondas ao redor do mundo. Eles aprendiam sobre a existência de novos picos, maneiras de surfar e as personalidades que já vinham abrindo o caminho. A consciência coletiva do surf estava lentamente começando a se consolidar, guiada pela bíblia do surf.

Na verdade, cada um dos surfistas profissionais de hoje em dia tem que agradecer a Severson por suas carreiras, afinal foi a revista Surfer a primeira a colocar a questão para seu leitores de quem era o melhor em 1964. Phil Edwards, o primeiro vencedor da Surfer Poll viu o seu valor profissional disparar logo em seguida como resultado. O modelo Phil Edwards das pranchas Hobie Alter saiu voando das prateleiras. A sondagem foi basicamente um atestado de viabilidade para um esporte muito mais organizado que estava por vir, mas os tremores sociopolíticos do final dos anos 60 colocou qualquer coisa com a mínima proximidade com a ordem estabelecida em espera durante a maior parte da década, incluindo a Surfer Poll.

Na verdade, muitos argumentam que a revista teve seu auge no final dos anos 60 e nos anos 70, quando o mundo estava passando por uma louca transformação. Enquanto Severson era, em muitos aspectos, parte da ordem estabelecida original do surf, ele foi fortemente influenciado por sua equipe mais jovem, liderada por editores como Drew Kampion, o famoso artista Rick Griffin e o renomado fotógrafo Art Brewer, que coletivamente se tornaram escultores subversivos da resistência cultural daquela época. Em 1970, Severson voltou às suas raízes, lançando um novo filme, Pacific Vibrations. Foi um dos primeiros filmes de surf a exigir a proteção de nossas áreas de diversão.

Em 1969, o presidente Nixon mudou-se para o bairro de Severson em San Clemente, durante o auge da guerra do Vietnã que estava cobrando seu preço em vidas humanas. Como consequência, os fuzileiros navais proibiram o acesso a Trestles, a famosa onda da cidade. Em 1972, Severson decidiu vender a revista e se mudar para Maui, onde se dedicou novamente a arte e a fotografia, suas paixões originais. A Surfer, entretanto, manteve o seu domínio do mercado com a ajuda do novo "publisher" Steve Pezman (que mais tarde fundou o Surfer's Journal) e o lendário fotógrafo Jeff Divine.

Quase 60 anos depois de Severson ter lançado seu pequeno livreto, seu impacto sobre a comunidade de surf permanece imensurável, porque ele foi o primeiro a promover sua união. Como escreveu Kampion durante uma homenagem a Severson em 1999, "Antes de John Severson não havia 'mídia de surf', nem 'indústria de surf'' e nem 'cultura de surf ' - não como a conhecemos hoje.

John Severson tinha 83 anos.

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